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OS MELHORES FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA

Retorno com outra lista dos 'melhores', desta vez elegendo, de acordo com minha opinião, os melhores filmes de ficção científica.

Sempre gostei do gênero, não só nas telas, mas também na literatura. Na adolescência e juventude fui um leitor assíduo de Arthur Clarke, Poul Anderson, Brian Aldiss, Philip K. Dick e outros.

Em geral, a ficção científica foi bem trabalhada pelo cinema. Assim como no caso dos faroestes - elaborei também uma lista dos melhores, aqui no Recanto - o gênero no cinema permitiu a criação de filmes que hoje são antológicos e clássicos da sétima arte.

Lamentavelmente, a partir dos anos noventa, acentuou-se uma expressiva decadência na qualidade dos filmes de ficção científica, atualmente relegados a exemplares que investem em violência pura e simples (Alien Vs. Predador) ou então em festivais inconsequentes de efeitos especiais, sem qualquer substância (Aeon Flux, Ultravioleta).

Espero que gostem da lista, sempre lembrando que ela reflete minha opinião pessoal e que - como é evidente - registra, tão só, os filmes que tive oportunidade de ver. Não inclui os filmes feitos para TV, como 'Jornada nas Estrelas', que, embora excelentes, pertencem à seara televisiva. Quem sabe possa ser feita uma lista dos melhores da ficção científica na TV? Material não falta!

1 - METROPOLIS (1926), de Fritz Lang
A ousadia temática de Lang, um dos mais importantes cineastas do chamado 'Expressionismo Alemão', brinda-nos com um filme profundo, profético em muitos pontos, com fotografia e efeitos especiais impressionantes para a época.
O tema de Metropolis aproxima-se de idéias trabalhadas por alguns ícones da ficção científica, a exemplo de Aldous Huxley, em sua clássica obra 'Admirável Mundo Novo'.
No futuro, a raça humana se encontra dividida em 02 grupos: Os Pensadores, que fazem planos (mas não tem a mínima idéia de como as coisas realmente funcionam) e os Trabalhadores, encarregados de implementar os planos dos pensadores, mas que são privados de qualquer acesso a um conhecimento maior. Em certo momento, um integrante dos Pensadores decide ir aos subterrãneos onde vivem os Trabalhadores e, apavorado com o que vê, incia uma revolução que poderá por em cheque o equilíbrio do mundo.
Baseado em uma trama de forte cunho político, o filme, produzido em meados da década de 20, antecipa o caráter alienenante, violento e anti humanitário dos governos totalitários que marcaram a vida política da Europa a partir da década seguinte.
Mais do que isto, Metropolis dita para o futuro - pode-se dizer, até os tempos atuais - uma estética visual que será seguida, em diversas oportunidades, em outros filmes do gênero.
Disponível em DVD pela Continental Filmes

2 - 2001 - UMA ODISSEÍA NO ESPAÇO (1968), de Stanley Kubrick
Aqui se associa em um filme quase operístico o talento literário de Arthur Clarke e a genialidade imagética do diretor Stanley Kubrick. A trama de 2001 é tão sutil e plena de entrelinhas que torna-se difícil resumi-la ou mesmo defini-la. Em verdade, o filme é uma investigação da natureza humana sob o ponto de vista antropológico, mas, também, com incursões reflexivas sobre o sentido da existência e o nosso papel no Universo. Neste sentido, pode-se ir ainda mais adiante e dizer também que 2001 apresenta um forte aspecto teológico, expresso, em boa medida, no Monolito Negro, entidade misteriosa e onisciente, que tanto pode ser lida como a ação de civilizações extraterrestres sobre a nossa história ou, ainda, como uma representação da idéia de Deus.
Importante destacar que o filme, em verdade, conta apenas a primeira parte do projeto literário total de Arthur Clarke, que se compõe de 4 livros. Em 1984, o diretor Peter Hyams filmou 2010 - O Ano em que Faremos Contato, que conta a estória do segundo destes livros, com resultado apenas mediano.
2001 - Uma Odisséia no espaço ganhou o Oscar de Melhor Efeito Visual.
Disponível em DVD pela Warner Home.

3 - SOLARIS (1972), de Andrei Tarkovsky
Tarkovsky foi um dos cineastas mais importantes da extinta URSS. Dirigiu filmes referenciais na história do cinema russo, com destaque, além do filme aqui citado, para 'Andrey Rublov' e 'Kerkalo' (no Brasil, 'O Espelho').
O filme é baseado em um dos mais importantes textos da ficção científica, o romance 'Solaris' do escritor polonês Stanislaw Lem. A estória - extremamente original - narra as experiências vividas em uma estação espacial na órbita de um planeta que parece possuir inteligência - o planeta Solaris - e que passa a interferir, progressivamente, na psiquê dos cosmonautas, conduzindo-os à loucura.
Em um ambiente claustrofóbico, Tarkovsky desfia a narrativa em ritmo extremamente lento - o filme tem 165 minutos - amparado em uma belissíma fotografia e em inovadores ãngulos de câmara. Dentre muitas cenas notáveis, destaca-se a da passagem do carro onde viaja o protoganista por um túnel, cena esta que atinge quase dez minutos.
O filme, no entanto, não é eficaz apenas por este ponto. A estória extraordinariamente bem escrita por Lem discute temas relevantes, de certo modo estranhos ao gênero da ficção científica. Pode-se mesmo classificar 'Solaris' como uma 'ficção científica bergmaniana' - em alusão ao grande Ingmar Bergman - na medida em que o filme investe, genialmente, em questões como a busca da identidade, a passagem do tempo, a solidão, a angústia, a incomunicabilidade e, principalmente, os sonhos, desejos e frustrações, forças sempre atuantes na determinação da existência humana.
'Solaris' teve uma segunda versão, desta feita pelo cinema norte americano em 2002, dirigida por Steven Soderbergh (o diretor de Onze Homens e Um Segredo) e com George Clooney à frente do elenco. Não é um mau filme, porém não se aproxima, nem de longe, do clássico de Tarkovsky.
'Solaris' foi agraciado com a Palma de Ouro em Cannes na categoria Melhor Diretor.
Disponível em DVD pela Continental Filmes.

4 - ALPHAVILLE - de Jean Luc Goddard (1965)
Os franceses sempre foram íntiimos da ficção científica. Não por acaso aquele que é considerado o pai da ficção científica é um francês, Jules Verne.
Aqui o cinema francês marca indiscutível presença com esta que é, talvez, a obra prima do polêmico cineasta Jean Luc Goddard. Confessadamente um fã do cinema americano clássico, Goddard, que diz ser Nicholas Ray o maior de todos os cineastas, faz em Alphaville uma bem sucedida mistura de suas influências cinematográficas, bordeando 'Metropolis', de Lang (no contexto da estória) o cinema 'noir' dos anos quarenta e cinquenta (no qual Nicholas ray foi um dos expoentes) quanto à estética.
Em 'Alphaville', um detetive particular chamado - tipo característico do cinema e da literatura 'noir' de Hammett e Chandler - viaja a um outro planeta onde, em uma cidade chamada Alphaville, ele se defronta contra o cruel dominador da cidade, o cientista Von Braun, que baniu o amor a livre expressão na cidade.
Filme ousado e inventivo, 'Alphaville' faz, pela primeira vez, o encontro de dois gêneros de narrativa distantes: a ficção científica e a estória policial. Esta original mistura proposta por Goddard renderá influências futuras para ambos os gêneros cinematográficos, a exemplo do cultuado 'Blade Runner' de Ridley Scott e 'Missão Alien'(Alien Nation), de 1988, dirigido por Graham Baker.
por este filme, Jean Luc Goddard ganhou o Leão de Ouro no Festival de Berlim como Melhor Diretor.
Disponível em DVD no Brasil pela Europa Filmes.

5- ET - O EXTRA TERRESTRE - de Steven Spielberg (1982)
Mais do que um filme de ficção científica, ET é uma destas produções que, goste-se ou não, traz consigo uma marca indelével que o transforma não apenas em um grande filme, mas em verdadeiro símbolo da sétima arte, assim como já aconteceu - em poucas oportunidades, frise-se - com os emblemáticos 'E O Vento Levou' e 'Casablanca'.
Mas ET é um grande filme. Talvez a mais complexa realização do prolífico Spielberg, hoje associado, basicamente, com mega-sucessos de bilheteria. Sim, ET é um filme complexo, porque transborda do gênero da ficção científica e, ao narrar uma estória aparentemente simples, que agrada adultos e principalmente crianças, estabelece comentários subliminares geniais com relação a temas como relações familiares, solidão, amizade, solidariedade, preconceito e as dores do crescimento.
A singela estória do pequeno extra-terrestre deixado para trás em nosso planeta e que é acolhido por um grupo de crianças conta muito mais do que aparenta. Revela a dificuldade dos seres humanos em captar o novo e consequentemente aceitar o desconhecido, a força violenta do Estado que reprime e condiciona - ou tenta condicionar - as mais essenciais manifestações do espírito humano e a dura realidade de que todo sonho é passageiro, na medida em que as crianças tem que enfrentar um fato doloroso, mas inequívoco: ET tem que partir porque aqui não é o seu lugar.
Neste ponto, Spielberg toca em um ponto que perpassa quase toda sua obra: a nostalgia da infância e da inocência e a sempre presente necessidade de crescer rumo a uma maturidade rígida e insossa.
Dirigido com grandiosidade e paixão, ET ainda conta com a maravilhosa trilha sonora do maestro John Williams, que criou um dos temas mais marcantes e belos do cinema, premiado com o Oscar por esse trabalho. O filme ainda faturou mais 3 Oscars: Melhor Efeito Sonoro, melhor Efeito Visual e Melhor Som.
Disponível em DVD pela Universal Pictures.

6 -20.000 LÉGUAS SUBMARINAS - de Richard Fleischer (1954).
A Walt Disney Pictures trouxe á tela a adaptação de uma das mais notáveis novelas daquele que é considerado o pai da ficção científica, Jules Verne. E o fez com êxito admirável!
O filme narra a estória de um professor em busca da existência ou não de um monstro marinho que anda a naufragar navios na época da Guerra de Secessão (1860-1865) e que tem, ele mesmo, o seu navio afundado. Sobrevivendo ao naufrágio, ele descobre que o monstro é, na verdade, um moderno submarino comandado pelo firme e obcecado Capitão Nemo.
O filme é rico em idéias e transpõe com beleza visual invulgar os inventos futurísticos de Verne, tais como o sofisticado submarino 'Nautilus', as fazendas submarinas e os equipamentos de mergulho. Ao lado desta riqueza de efeitos, o filme ainda se dá ao luxo de contar com as inesquecíveis e absolutamente perfeitas performances de James Mason, que aqui compõe o definitivo Capitão nemo, com a sua barba bem talhada e as roupas sempre escuras e o irrequieto, brigão e temperamental Kirk Douglas, como o arpoador Ned Land.
esta insuperável versão do clássico romance de Verne ainda se apresenta como uma das mais sólidas e competentes aventuras de ficção científica já realizada no cinema, mesmo já decorrido mais de cinquenta anos da sua produção.
O filme ganhou o Oscar de Melhores Efeitos Especiais.
A mesma novela de Verne teve outras adaptações, uma delas em que o grande ator inglês Michael Caine encarna Nemo. Um filme ruim e Caine, embora talentoso, está uma lástima.
Disponível em DVD pela Abril Vídeo.

7 - INIMIGO MEU (Enemy Mine) - de Wolfgang Petersen (1985)
Neste filme sombrio e árido, desenrola-se, como em um contraste perfeito, uma estória que evolui do ódio ancestral para a amizade mais profunda, sempre com um 'timing' perfeito e amparado pelas performances exatas de Dennis Quaid e Louis Gosset Jr.
Em um futuro distante, na medida em que a nossa galáxia vai sendo paulatinamente colonizada, a raça humana entra em uma guerra com a raça dos Dracs, répteis inteligentes, que disputam com os humanos a primazia na colonização.
Durante uma batalha espacial, o capitão Davidge (Quaid) cai com a sua nave no planeta vulcânico Fryine IV. Logo, Davidge descobre que não está só ao encontrar um Drac chamado Jeriba Shigan (Gosset Jr). Deste modo, humano e Drac são forçados a pôr de lado suas diferenças para tentar sobreviver e, neste processo, desenvolvem uma sólida e imorredoura amizade.
Filmado quando ainda vigorava a Guerra Fria, Inimigo Meu combina elementos de reflexão política, solidariedade e afirma-se como uma obra bem construída contra a intolerância e o sentimento bélico. Além disto, o filme é, por si só, uma aventura contagiante, que envolve o espectador, estabelecendo, graças à precisa direção do diretor alemão Petersen (que dirigiu também o excelente filme de guerra 'O Barco' em 1981) e a excelente ambientação cenográfica, uma experiência filmica extremamente impactante e verdadeiramente inesquecível pela sua dramaticidade e singeleza.
Disponível em DVD pela Fox Videolar.

8 - CIDADE DAS SOMBRAS (Dark City) de Alex Proyas (1998)
De longe, o melhor filme de ficção científica produzido nos anos noventa e indubitavelemnte hoje um clássico referencial.
Dirigido pelo cineasta australiano (nascido no Egito) Alex Proyas, também autor do roteiro, o filme conta a história de um homem chamado Murdoch (vivido pelo ator inglês Rufus Sewell) que acorda sem memória em uma banheira de um velho hotel, tendo, ao seu lado, o corpo de uma prostituta assassinada. Logo, Murdoch vai se ver envolvido em uma caçada pela busca da sua identidade em uma cidade hostil, ajudado pelo misterioso Dr. Schreber ( o polêmico Kieffer Sutherland, de '24 Horas', aqui em grande forma).
A estória em si não é ponto forte do filme. E nem é esta sua intenção. 'Cidade das Sombras' é uma obra que propõe severa ruptura com a realidade e que mergulha não em uma busca vulgar expressa por perguntas banais como 'o que aconteceu comigo?' ou 'quem é o culpado?'. A angustiante jornada de Murdoch é, em si mesma, a fonte de todas as respostas. O espectador deve mergulhar nas idiossincrasias da obra e só assim conseguirá experimentá-la por completo.
Amparado em um cenário sombrio e decadente - onde se nota toques do 'noir' e do horror gótico - e a influência referencial de obras como 'Metropolis' e 'O Gabinete do Doutor Caligari', o filme de Proyas é uma lição perfeita de cinema instigativo e inteligente que, decisivamente, volta às costas às soluções e propostas óbvias e fáceis.
Disponível em DVD pela New Line Cinema.

9 - O PLANETA DOS MACACOS (Planet of the Apes) de Franklin J. Schaffner (1968).
Mais que um bom filme de ficção científica, 'O Planeta dos Macacos' é um marco na história do cinema. Trata-se de um destes filmes que, por sua excelência e capacidade de permanecer na mente e na lembrança de todos os que o assistiram, surge quase como um símbolo da ficção científica no cinema.
O roteiro inteligente, o figurino perfeito e assustador e o seu arrasador final (um dos mais impactantes do cinema!) somam-se para tornar este filme tão atual quanto o foi em seu lançamento há quarenta anos atrás.
O coronel Taylor (Charlton Heston, fabuloso!) cai com a sua espaçonave em um planeta desconhecido e é feito prisioneiro por uma raça de macacos inteligentes. Sobre esta base simples, o filme manipula temas difíceis e pesados - notadamente quando se percebe a época histórica do seu lançamento, o conturbado ano de 1968 - tais como a inutilidade e estupidez das guerras, a inflexibilidade do pensamento dogmático, a crueldade do preconceito. A direção competente de Schaeffer nos brinda com um visual pós-apocalíptico que vai encontrar seu ápice e a sua inspirada revelação na terrível cena final.
Vale destacar ainda a presença no elenco do espetacular Roddy McDowall (aqui em uma performance antológica, como o macaco cientista Cornelius). O filme teve quatro seqüências, virou série de TV em 1974 e teve uma segunda versão, em muito inferior a esta, dirigida pelo incensado Tim Burton em 2001.
Disponível em DVD pela Fox.

10 - VIAGEM FANTÁSTICA (Fantastic Voyage) de Richard Fleischer (1966)
Exemplar típico do mais competente 'cinema pipoca' que se possa imaginar, esta deliciosa aventura, baseada em uma estória escrita por outro mestre da ficção científica, Isaac Asimov, é pura diversão e consegue, sem dúvida, fazer o espectador manter-se agarrado á cadeira até os créditos finais.
Um cientista que detém um segredo militar importante para os EUA foge da Cortina de Ferro com a ajuda do agente Grant. Enquanto é transferido do aeroporto para a base militar americana, seu carro é atacado e ele sofre séria lesão cerebral, inoperável pelos meios normais. O agente Grant e um grupo de cientistas são miniaturizados à bordo de um submarino, injetados no corpo do cientista e tem como missão viajar até o cérebro e executar a complexa cirurgia.
Imaginativo, divertido, com cenas maravilhosas, como o combate dos cientistas, vestidos de roupas de mergulho, contra células sanguíneas, fazem de 'Viagem fantástica' uma festa para os olhos e uma diversão inesquecível.
O filme ganhou o oscar de Melhor Efeitos Especiais e tem no elenco um 'cast' de peso, com Stephen Boyd, raquel Welch e Donald Pleasance.




















alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 15/02/2008
Alterado em 26/06/2012


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