Textos



Sempre por todo lado, abrigado, desamparado
transito pelo possível
pelo que sonho, por tudo que desespero
meu mundo virou alcova de passantes
minha vida anda por aí, como bicho desencarnado...

A alma que me justifica, impressão digital
transmudou-se tanto depois de incontáveis alvoradas
que a juventude, hoje, é miragem desgastada
não sei se sou tão velho como deveria ser.

Gosto do gosto do café, do aroma dos cigarros
os tetos abobadados dos palácios, revistas de viagem
falam-me da Ásia, ideogramas e imperadores
do Celeste Império que anoiteceu.

Só me resta, enfim, estar por todo lado
por aí, aos poucos indo e esquecido
porque depois da minha extinção
nenhuma enciclopédia mencionará meu nome.

Sempre por aí, sim, enquanto houver função
para minha voz, meus gestos, meu ser e não ser
porque depois, ah! depois serão as asas dos anjos,
a Cidade Eterna ou o eterno abandono
as praças imensas do sono abissal.

Não me engano, não me poupo,
não acaricio mais o sonho
como se ele fosse um bicho de estimação.
Sempre por aí, vou indo...
e no mais, suspiro
por um bom prato de macarrão.

 
alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 03/11/2008
Alterado em 22/03/2012


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