Textos


Quando éramos crianças, eu, Marta e Chico brincávamos sempre no Monte Azul. Era chamado assim porque, desde a cidade, aquele monte arredondado em forma de pão, tinha sempre um estranho tom azulado, que o fazia parecer ainda mais alto, misturado ao céu.
Marta foi a primeira a ir embora. Chorou muito quando seus pais decidiram se mudar para a capital e, abraçada a nós, perguntou se iriamos tomar conta do Monte Azul. Também chorando, prometemos que sim.
Depois foi a vez de Chico partir. O avô dele, homem seco e sério, veio busca-lo depois que a mãe dele morreu. Nem deu tempo da gente se despedir. De manhã cedinho, da janela do meu quarto, vi o carro preto sumir para além do Monte Azul.
Meus filhos gostam de brincar no Monte Azul. N´último domingo, ao leva-los até lá, sentei um pouco afastado e gritei, sei lá porque: Marta! Chico!
O eco trouxe os nomes de volta, o mesmo eco de antes, do tempo em que eu gritava com meus amigos, saudando a imensidão vazia; só a voz era outra, adulta, pesada, arrepiada de desilusões. Mas de repente o eco que se partiu e uma voz doce, alheia ao tempo e às idades, saltou de dentro dele, imensa flor: você cumpriu a promessa.
Olhei em volta e só vi os meninos, longe em suas brincadeiras, envolvidos pelo silêncio cheio de vozes e de segredos do Monte Azul. 
alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 06/06/2016


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